sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Pequena Explicação - COLUNA NA CONTRAMÃO - Por Nancy Nuyen



Pequena explicação


por Nancy Nuyen*



Há dias, as palavras não saem.

Há dias, as conversas são internas (eu e eu).

Dias estranhos. Pouca coisa me interessa.

É um olhar como quem vê do lado de fora.

E um cansaço absoluto de todas as coisas.

Política, economia, tecnologia, fuck all.

Eu penso que deveria existir um remédio para dor de alma. Tipo um pequeno perdão de uma Força Maior.

Eu penso que deveria existir um anjinho bom que tirasse esse peso, essa angústia, essa vontade de chorar.

O planeta segue seu rumo e enquanto houver floresta para ser queimada, gado para os matadouros, óleo para queimar nos carros e fábricas, estará tudo certo. Enquanto houver futebol, cerveja, Big Brother, carnaval, chapinha, salto alto, cursos para explorar inteligência emocional ou “dicas para um trabalho eficiente” estará tudo certo para quase todos.

Chorar alivia, mas não cura.

Hoje um passarinho bateu no vidro da janela e caiu, na sala, desacordado. Peguei o bichinho e passei a mão em suas penas (por favor, não morra). Ele abriu os olhinhos redondos, devagar. Coloquei seus pezinhos na janela. Saiu voando. Graças a Deus.

Sim, para o dia-a-dia do mercado de ações, da bolsa, das grandes pesquisas de laboratório, dos grandes negócios, das grandes reuniões de “gênios-que-vão-mudar-o-mundo” e, também, para o universo das medíocres vidinhas cama & mesa & banho, a morte do bichinho teria pouco significado.

Porém, aqui dentro, seria desesperador, o efeito seria devastador. Sim, sou esquisita.

Me pergunto, 24 horas, sobre o sentido do que faço no meu dia.

E quando fica estranho encontrar algum sentido há um desconforto triste.

Perceber dói. Mas, leva a novos movimentos, o que de certa maneira é importante e me mantém viva.

Perceber cansa, mas, na maior parte das vezes, é inevitável: exercício aprendido e internalizado.

É olhar os “candidatos” a mestres de cerimônia do circo verde-e-amarelo falando alto, cuspindo, vomitando egos inflamados nos debates combinados, e sentir uma imensa preguiça de tudo (será que eles têm noção de que tudo isso é pequeno, de que são ridículos em suas certezas e promessas?).

Perceber é ser estrangeiro em qualquer parte. Excetuando-se – thanks God! - no melhor lugar do mundo (que cada um deve ter o seu e, se não tem, deveria procurar).

Tudo o que eu sinto é que a vida de um periquito é maior e mais importante do que a conjuntura econômica global. Louca? Gosto que seja assim, preferencialmente sem a perspectiva de, um dia, virar gente normal. Essa sou eu, de verdade. Sem medo de me expor. Com todas as marcas e feridas que essa postura traz, lendo a vida a meu modo. O nome disso é liberdade.



Música acidental: “O deserto que atravessei ninguém me viu passar, estranha e só, nem pude ver que o céu é maior...”.



*Nancy Nuyen é jornalista, professora universitária, anarquista, roqueira e um dos orgulhos do I.N.T.E.R.V.3.N.Ç.Ã.O  H.U.M.4.N.A.*.

























6 comentários:

  1. Não te mandei o comentário antes, por um simples fato: não tive palavras pra descrever ou 'opinar'. Vem cá, você tá falando de mim aí em cima por quê? Minha mãe te contou? Ahh, ela não poderia...porque isso são coisas tão íntimas, mas tão íntimas que nem ela sabe. Mas obrigado por externalizar isso. MUITO OBRIGADO. MESMO.

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  2. Obrigado Nsn estamos juntos, penso e sinto igual por isso me considero uma pessoa que encontrou fecilidade em mim mesmo!

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  3. É amigos... só o rock salva (rs). Escrever salva. Eu é que agradeço por ter vocês na minha vida e sentir o gosto da liberdade. Tamu juntu! Rock on!

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  4. Maravilhoso!
    Fantástica leitura de todos nós...
    Parabéns!

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  5. O passarinho está bem,ele está voando,trazendo
    alento e conforto pra ti.(E pra todos nós que temos o prazer de poder receber estes toks que
    voce tão maravilhosamente nos dá)O melhor lugar do mundo.....é o refúgio,o balsamo.....o ninho....do passarinho.NINGUEM PODE CORTAR AS SUAS ASAS.ROCK N ROLL.(GIMME SHELLTER).

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  6. Oi Júlia, obrigada!
    Oi Marcos, meu amor, love and kisses.

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Á vontade, como se estivesse em casa...