quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

o CERTO POR LINHAS TORTAS - Café Comportamental - Por: Julia Chaim



O Certo por Linhas Tortas




Quantas vezes eu reclamei, fui contra, perguntei-me o porquê de tudo aquilo, sofri, tive que ir por um caminho que não era o que eu desejava... E hoje estou aqui, no melhor lugar que poderia estar, esforçando-me e tendo resultados positivos.

Por falta de maturidade e por grande apego, muitas vezes temos dificuldade de entender e aceitar os novos rumos que a vida nos oferece a seguir. Culpamos um deus, nossa incompetência, o outro, os acontecimentos que nos fizeram agir daquela forma... Choramos, brigamos com o mundo, nos sentimos vítimas e negamos a realidade...

E depois de um tempo, de um passo após o outro, de algumas ajudas aceitas e do instinto natural de sobrevivência, nos reerguemos e seguimos nosso caminho, aceitamos que ele é conseqüência, que é necessário e válido de algum aprendizado. E de repente, como um insight, nos damos conta de como tudo está bem, do quanto àquela mudança de rumo foi positiva, do quanto somos capazes de melhorar como pessoas quando optamos simplesmente em seguir nosso caminho, sem perguntas vazias e mágoas... Quanto os acontecimentos da vida podem nos transformar e proporcionar amadurecimento.

O fato é que estamos no melhor lugar que poderíamos estar. Este lugar é a resposta de nosso passado e o que vislumbramos para o futuro. Este lugar atual poderia ser melhor e está na capacidade e na vontade de cada um fazer com que tudo realmente melhore. O melhor que temos hoje não significa que é o melhor que podemos ter.

Sempre podemos mais. Sempre está em nosso alcance fazer melhor.

O caminho, por mais doloroso que seja, é o retorno que a vida está nos dando às atitudes que tivemos e às ações que idealizamos ter.

A oportunidade vive no agora.



Júlia Chaim







terça-feira, 30 de novembro de 2010

Tem hoje. E só. - COLUNA NA CONTRAMÃO- Por: Nancy Nuyen



Tem hoje. E só.


*por Nancy Nuyen

Dia produtivo. Antes de tudo, explico que entendo como dia produtivo um dia diferente daquele dedicado somente ao trabalho e aos compromissos assumidos.

Não ficou claro? Lá vai: Lembrei de mim. Uma mulher, ser humano, que vive quase sempre no piloto automático ("qual a próxima tarefa, trabalho, obrigação? O que eu esqueci de fazer?").

E me permiti algumas poucas - porém, adoráveis - horas de paz, bobagens, pequenas coisas (que são as grandes, olhando de perto), olhares novos, pensamento voando sem amarras, sentimento chegando e, depois de sentido, indo embora prá dar lugar a outros... enfim.. o que a vida deveria ser.

Daí é assim: acordar sem despertador e se espreguiçar muito. Sair da cama sem correr. Preparar um bom café. Ler os trabalhos dos estudantes com calma. E curtir muito (nooossa, a moçada vem se superando...). Parar para cuidar de si mesmo, ou seja, meditar, caminhar olhando cada casa ao lado, com suas portas, janelas, formatos, jardins, cachorros... Gente, nunca vi que tinha tanta casa bonita neste lugar.

É descobrir que temos novas lojas no pedaço, entrar em cada uma, saudar os lojistas, xeretar sem compromisso e sair andando. Cuidar da pele, da floreira.... Café quentinho na padaria, sem pressa, sentindo o sabor. Parar para fumar um cigarro, demoradamente e... perceber que assim não tem muita graça, e ficar sem vontade de fumar no meio do cigarro, apagar e sair andando. Ligar para o namorado, pausa feliz, sorrindo.

Entrar na lojinha e comprar jujuba, bala de goma, aqueles doces e salgadinhos do tempo da escola. Continuar andando com alguns doces na boca. Pensar: "Será que vai chover hoje?", ou "oba, logo vou montar a árvore de Natal" sem ficar aflita.

Almoço tranquilo, mais leitura, em paz. Brincar com os cachorros, ver os compromissos com mãe e pai, sem ficar impaciente. Lembrar que hoje é dia de rodízio e pensar: "Que bom! Excelente desculpa para andar mais e ver tudo o que não vejo quando estou dirigindo. Hoje vou parar quando tiver vontade e continuar quando quiser. Parar para ver que reformaram a casa da esquina e ficou muito legal e pensar em deixar minha casa mais legal também. Continuar quando tiver visto o que queria ter visto, detalhadamente. Simples assim.

Lembrar, no meio da andança, de quem se é: neste caso,mulher que precisa de alguns cuidados.

Vi coisinhas lindas, brincos, pulseiras etc e tal. Experimentei tudo e só levei o que realmente curti em mim ( e tb o que pensei que ele pudesse curtir, claro, não sou - e nem quero ser - a independente profissional egocentrada). Umas espiadas no computador, para saber dos amigos. Tranquilamente.

Telefonar para uma amiga querida, agendar para nos vermos logo mais. Vai ser bacana, é uma amiga mesmo, não aquela coisa de mulherzinha que troca três beijos, se chama de querida e dá-lhe falação pelas costas... estas ( e homenzinhos assim) já dispensei há muito tempo.

Ih... choveu! As plantas agradecem, quem está no trânsito poderia aproveitar para se alongar ao som de uma música legal, né? Ou ligar para os amigos.

Ouvir e ver que a coisa tá feia no Rio. E perceber que isso entristece, mas não o suficiente para estragar o dia. Sentir, se solidarizar... mas, de forma concreta, foge do alcance qualquer outra ação, exceto escrever sobre, aqui e em outros lugares, talvez em outro momento.

E assim o dia vai passando. E dando voadora - o que, por vezes é necessário - ou ficando zen - o que é sempre necessário - chove, faz sol, casas são reformadas, os enfeites de Natal surgem aqui e ali, cada dia descubro um novo (como é bonito isso, acho que não tive infância, adoro!). Tudo acontece, tudo é. Só não acontece se não permitirmos que os olhos percebam, se nos entregarmos à ansiedade insana de quase todo dia.

E sobraram algumas horinhas de claridade no final. Então é isso. Tudo é. As coisas são. Basta olhar um pouco mais demoradamente. Tirar o pé do acelerador. Afinal, como diz a música, "ninguém sai vivo daqui mas, vamos com calma". É preciso viver e se sentir vivo, se olhar para poder olhar o externo.

Não tem pódio de chegada, não tem prêmio lá na frente. Não é competição, embora tentem nos convencer disso 24 horas. Tem hoje. E só. Estabeleça metas, faça o que precisa ser feito, cumpra sua palavra, não falte com a verdade e não deixe para outro dia. Mas reserve um tempo para deixar A Vida pilotar e sai andando... Faz bem, eu recomendo. Juro que o mundo não acaba. No máximo é possível se dar conta de que não vivemos, na acepção completa da palavra. Estou falando isso prá Nancy - aquela que corre corre corre - ouvir e fazer um dia desses muitas vezes mais. Bora?

*Nancy Nuyen é jornalista, professora, roqueira, anarquista, inadequada e livre. Pensadora e amiga também.*