quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Nostalgia?! Cuidado! É uma armadilha!- COLUNA H.U.M.4.N.A - Por: Michel Siekierski



Cuidado! É uma armadilha!



Quantos de nós já não ouvimos, ao menos uma vez, de nossos pais ou avós as seguintes frases: “...as coisas já não são mais como eram antigamente...” ou “...o mundo está à beira do abismo...” ou então “...no meu tempo as coisas eram melhores...”. Enfim, quem nunca, direta ou indiretamente, foi vítima da NOSTALGIA?

A palavra “nostalgia” vem do francês nostalgie e, segundo o dicionário, quer dizer: 1: Tristeza profunda causada por saudades do afastamento da pátria ou da terra natal. 2: Estado melancólico causado pela falta de algo.

Bom, o que importa para nós é a segunda definição: culturalmente, nos referimos à nostalgia quando falamos daquele eterno e constante sentimento de saudades; àquela sensação de que nada nunca será tão bom quanto era no passado.

A nostalgia é, na verdade, uma grande peça que o cérebro nos prega. Segundo matéria publicada na revista americana LiveScience, o nosso cérebro, por influência das nossas emoções, armazena de maneiras completamente distintas as memórias ruins e as boas (http://health.newsvine.com/_news/2010/10/12/5279623-bad-memories-stick-better-than-good-ones).

Segundo a pesquisa, quando passamos por uma experiência ruim, como um assalto ou acidente de transito, nossas emoções “avisam” nosso cérebro, que passa a funcionar com a maior eficiência possível, memorizando detalhes que, em outras situações, passariam despercebidos. Isso faz parte de um mecanismo de sobrevivência que temos, o qual permite que, através do armazenamento de dados precisos do evento, aprendamos a lidar melhor com ele, da próxima vez em que ocorrer.

Em contrapartida, no caso das lembranças boas, como nosso casamento, formatura ou nascimento do filho, e lembranças normais, como um simples dia de trabalho, o cérebro não recebe este tipo de “aviso”, focando-se apenas no principal e ignorando os detalhes que, com o passar do tempo, serão substituídos por memórias de que, naquelas situações, tudo correu uniformemente bem. Por exemplo, imagine que, no momento do nascimento de seu primeiro filho, você passe por situações como: quase bater o carro a caminho do hospital, levar uma multa por alta velocidade, ter dificuldades em conseguir falar com o ginecologista, demore a ser atendido na maternidade, entre outras tantas coisas desagradáveis que estamos sujeitos neste momento tão mágico. Com o passar do tempo, a tendência é que todos estes detalhes desagradáveis caiam no esquecimento.

A pesquisa ressalta ainda que, por mais certeza que tenhamos acerca dos detalhes entorno de eventos positivos, ou regulares, pelos quais passamos, existe uma grande probabilidade de eles não terem ocorrido exatamente da maneira como lembramos.

E é exatamente aí que está a pegadinha! Ora, se as experiências consideradas normais e cotidianas, com o passar do tempo, passam a ser lembradas, de maneira geral, como boas, será sempre desleal compará-las com as experiências normais e cotidianas mais recentes, cujas lembranças ainda estão acompanhadas de detalhes mais precisos e, digamos, mais realistas.

Por isso, quando alguém mais velho se vangloriar de como TUDO era melhor em sua época, dê os devidos descontos e perdoe-o, pois não se trata de um mentiroso e sim de apenas mais uma vítima de um truque do cérebro. Acreditem: vocês também repetirão as mesmas frases chatas aos seus filhos e netos!

Importante: por mais absurda que a situação possa parecer nos dias de hoje, se na época em que ela ocorreu era considerada normal, com o tempo, nosso cérebro se lembrará dela como algo bom, em todos os seus detalhes.

Neste sentido, a internet e a liberdade de imprensa também ajudam a criar esta ilusão, pois fatos absurdos que aconteciam antigamente e não chegavam ao conhecimento da população, agora chegam com a velocidade de um raio!

Um bom exemplo disso é o crescimento no número de denuncias de corrupção na política, que parece nunca ter sido maior, certo? Mas pare pra pensar: Sarney, Renan Calheiros, Collor, Maluf, Quércia, José Dirceu, Palocci, Genoíno, entre outros, estão na política há décadas! E será que só resolveram começar a roubar agora? Ou será (mais provável) que, simplesmente, agora é que tudo está vindo à tona?

Sendo assim, tenham muito cuidado com as memórias e impressões do passado e combatam a desestimulante e inverídica nostalgia.

Afinal, quando, exatamente, as coisas eram tão melhores? Há vinte anos atrás, na época da inflação e da recessão? Não? Não voltei o suficiente? Que tal há quarenta anos atrás, durante a ditadura no Brasil e a Guerra Fria no mundo, quando se vivia constantemente sob ameaça de um desastre nuclear? Também não? Ok! Que tal há setenta anos atrás durante o nazismo? E durante a Primeira Guerra Mundial? Era melhor também? Quem sabe durante a escravidão dos negros? Durante a Inquisição na Idade Média?

Convenhamos: NÓS NUNCA ESTIVEMOS MELHORES!

É evidente que ainda há muito para ser feito, mas em comparação com o passado, nunca o ser humano foi tão valorizado, nunca os direitos dos animais estiveram tão em pauta, nunca se falou tanto em preservar o meio-ambiente, nunca a democracia foi tão forte, nunca a educação e a informação foram tão acessíveis, nunca as taxas de mortalidade infantil, analfabetismo e natalidade foram mais baixas, nunca os empregados e os consumidores foram tão respeitados, nunca a descriminação e o preconceito foram tão combatidos... Nunca, nunca, nunca!

Por isso, tire o máximo de proveito da época maravilhosa em que vivemos, desfrute de todos os avanços atingidos pelas gerações passadas, deixe novos avanços para as gerações futuras e lembrem-se:



“O passado é lição para se meditar, não para se reproduzir.”

- Mário de Andrade



Valeu galera! Até quinta que vem!





*Michel Siekierski é uma pessoa com princípios e valores arraigados, amante dos pequenos prazeres da vida, que não tem medo de expor suas opiniões e nem de mudá-las, viciado em pensar, questionar e refletir, apaixonado pelo ser humano e colaborador do I.N.T.E.R.V.3.N.Ç.Ã.O   H.U.M.4.N.A às quintas-feiras.*






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3 comentários:

Á vontade, como se estivesse em casa...