terça-feira, 9 de novembro de 2010

Disposição da alma. COLUNA NA CONTRAMÃO - Por: Nancy Nuyen.



Disposição da alma


"Bebida é água, comida é pasto. Você tem sede de quê? Você tem fome de quê?" (Titãs)

por Nancy Nuyen*



Li recentemente, numa dessas redes sociais, o post de um amigo (mais que brother), falando sobre a impossibilidade de ajudar alguém. Fiquei muito pensativa.

Sou professora e, como já postei por aqui anteriormente, acredito que meu trabalho é compartilhar minha experiência profissional e de vida, meus estudos e meu jeito de ler o mundo com pessoas que estão no propósito de seguir a carreira profissional que segui.

Pois bem. O que percebo desde que comecei a trabalhar com isso é que, para ocorrer um avanço ou uma mudança (o que chamam de aprendizado, não gosto muito desta palavra) no sentido de termos mais que profissionais bem preparados, pessoas melhores (incluindo eu mesma aí) é a contrapartida.

Explicando: não há como obrigar quem não queira a estudar, a se interessar, a compartilhar, a dividir, a avançar. É preciso que a pessoa queira e, mais que isso, tenha a honesta disposição de colaborar, se comprometer (espontaneamente) e dividir - aqui falo de generosidade. Não a generosidade de dividir coisas, dinheiro, mas a generosidade da alma, a disposição de olhar com empatia e de coração aberto.

E sob meu ponto de vista, isso serve para tudo nesta vida. Recentemente recebi um ataque bem maldoso de alguém que eu tinha como pessoa generosa, alguém com quem pensava poder contar para as horas difíceis. E aqui falo de crueldade. Sim, podemos e constantemente ficamos raivosos, furiosos, revoltados, o que não nos dá o direito de sermos cruéis, na minha visão. Há uma distãncia enorme entre "falar o que se pensa" e ser cruel.

Não foi a primeira vez que isso aconteceu, mas continuo - e continuarei - apostando num mundo mais humano até que me provem o contrário. Afinal, termina sempre entre eu e Deus (nunca foi entre eu e o outro), quando o que está na roda são princípios, valores, ética, bondade, coragem.

Pois bem, esse alguém veio me pedir ajuda há quase dois anos. Dei o meu melhor, imperfeito, sou humana e falível, mas foi o meu melhor. Algumas vezes fui buscar o que eu nem tinha para oferecer. Pedia forças para ouvir com calma, apontar para caminhos que já trilhei e que se mostraram bacanas.... Mas não deu certo.

Não havia honestidade, uma contrapartida limpa, cristalina, verdadeira. Nunca houve, só na minha cabeça e no meu coração. E a "generosidade" - que desobri depois, tinha aspas - acabou por telefone, num momento que eu precisava de um ombro.

A lição ficou. Aprendi que um pouco de desconfiança (infelizmente, para o meu gosto), ou melhor, prudência faz bem. Talvez eu tivesse que ter sido mais atenta, não sei... aprendi que começar processos de qualquer ordem com desconfiança me faz muito mal e me engessa. Mas é preciso prudência.

Paciência, não vou mudar de uma hora para outra, mas a vida vai ensinando, poderia ter ficado mais atenta, agora já foi, ia doer menos, mas não tem problema, uma dorzinha vez ou outra me lembra que preciso cuidar da vida, do meu amor, dos bons amigos e de mim mesma. Cuidar de gente cristalina, que chegue sem mentira, de cara lavada e coração escancarado ( #prontofalei). Gente com vontade e propósito no que quer. Principalmente com propósito e honestidade sobre o que não quer. Isso é para poucos. São aqueles que, na atualidade mundial e histórica e social etc e tal são chamados de trouxas, bobos, ingênuos, crédulos.

A vida é assim, neste planetinha azul e no país onde uma griffe de roupa ou sapato fala mais alto do que um sorriso aberto na elaboração de perfis e competências. Deveria existir griffe para caráter, plaquinhas que orientassem: " Cuidado, é só blá blá blá..." .

Enquanto não existem essas plaquinhas automáticas, continuo confiando na vida, limpando os arranhões (alguns viram feridas, cicatrizam) e tocando em frente, "fazendo a correria" como dizem do outro lado da ponte, onde os códigos de conduta são mais respeitados.

O que motiva é perceber, durante as aulas, uns dois ou três, entre quarenta, que estão honestamente dispostos. Que fosse um só: já valeria o dia, o trabalho, a dedicação.

O mais louco é que eu tenho paz. E continuo sorrindo, coração e cara lavados. Inadequada. Livre.



* Nancy Nuyen é jornalista, professora, roqueira, anarquista, livre e inadequada.*

9 comentários:

  1. Muito bom este seu "desabafo", Nancy...
    Realmente falar o que pensa não tem nada a ver com usar de crueldade, em expor pontos fracos do próximo...Realmente só conseguimos ajudar quem quer ajuda e está disponível pra isso...
    Realmente estar de "coração aberto" não implica em reciprocidade...
    Mas a iniciativa é boa por si só...
    Bjos

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  2. Nan. Cada um na sua e os cruéis bem longe. Se é que você me entende, minha amiga...

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  3. E digo mais. Estamos nos unindo. Estamos nos recriando e nos reinventando. Ultrapassando. 'NÓS' = os verdadeiros.
    Bjo.

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  4. Pois é, amigos, a coluna desta vez ficou mais para o que eu precisava dizer do que para o bacana de se ler....rs. Mas com a liberdade que temos aqui, que o Arthur nos dá, é possível acontecer isto vez ou outra. Obrigada pela leitura atenta e carinhosa. Arhtur, valeu, e, sim, eu entendo.
    bjos
    Nancy

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  5. Não tem dor maior....do reconhecer a imperfeição do ser humano,quando ela se mostra cruel,egoista
    e covarde.Mas tambem existe a alegria de reconhecer a imperfeição pode nos trazer......
    . evolução,reconhecimento de quem somos e de quem
    devamos nos aproximar.Obrigado por deixar eu me aproximar de voces,,,
    Nan..eu sei que não foi só um cisco..mas tem eu e um monte de gente assoprando
    Te amo

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  6. Marcos, obrigada por estar sempre por perto cuidando dos ciscos que insistem em cair nos meus olhos de vez em quando... bjo!!! amo vc.

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  7. O amor é lindo!
    Vcs me fazem acreditar.

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  8. Sabe de uma coisa minha amiga? Suas atitudes e pensamentos, conflitam exatamente com a parcela de contribuição para evolução, da qual me referi. Por isso te admiro! FRED

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  9. Obrigada Fred!!!! bjo
    Júlia, pode acreditar! bjos
    Obrigada amigos! ;)

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Á vontade, como se estivesse em casa...