terça-feira, 30 de novembro de 2010

Cegueira - C.0.L.U.N.4. H.U.M.4.N.A. - Por: Michel Siekierski



Ensaio contra a cegueira




Na semana passada, estava conversando sobre cinema com um amigo e perguntei-lhe se havia assistido ao filme “Diamante de Sangue”. A resposta, que me serviu de inspiração para este texto, foi exatamente esta: “Não, Michel. Não gosto de assistir a filmes que expõem demais a realidade”.

Foi então que não pude deixar de pensar naquela que talvez tenha sido a primeira citação ou frase de efeito que me foi ensinada na escola, assim como estou certo de que foi para muitos de vocês também: “O pior cego é aquele que não quer ver.”

Pois bem, o que me deixa intrigado é como tal ensinamento pode ser esquecido tão fácil e rapidamente pela grande maioria de nossa sociedade, apesar de tão repetido e divulgado, ao longo de tantas gerações. Por que nossa sociedade está tão repleta de pessoas que fazem questão de serem cegas?

Será que, com o passar dos anos, fomos sendo condicionados a manter o “foco” em nossas carreiras, crescer profissionalmente, ganhar cada vez mais dinheiro, ser reconhecido, sem lembrarmos que, de vez em quando é preciso parar um pouco e observar o que está ocorrendo ao nosso redor? Será que estamos tornando-nos uma sociedade repleta de peritos e especialistas, transformando a visão sistêmica em uma qualidade cada vez mais rara?

Certamente, o fato de vivermos na Era da Informação fez com que muitos abrissem seus olhos e mudassem de atitude, ou melhor, tomassem alguma atitude. Entretanto, este mesmo fato torna ainda mais imperdoável a opção pela ignorância feita por tantos outros, como se esta fosse uma alternativa válida.

Muitos dirão que não cabe ao cidadão, mas sim ao Estado, combater todas as injustiças e desigualdades que testemunhamos em nosso cotidiano. Mas não é exatamente este o significado da palavra “iniciativa”? Fazer a coisa certa sem que seja necessário que alguém peça ou nos obrigue a fazê-la? Aliás, por que a iniciativa tornou-se tão valorizada e requisitada no mundo laboral e tão esquecida fora dele?

Mas tudo isso é compreensivo, afinal, sincera e honestamente, quem conseguiria dormir tranqüilo ao refletir sobre toda a miséria em que a MAIORIA dos seres humanos vive, sobre a eminente falta de água no planeta, sobre os animais em extinção, sobre os vira-latas abandonados, sobre os desmatamentos de nossas florestas, sobre a impunidade para os corruptos, etc?

Talvez este seja o ponto! Talvez, quando nos deparamos com estas informações e optamos por ignorá-las, ou então, quando nos limitamos a delegar a solução de nossos problemas para órgãos públicos, notoriamente conhecidos por sua incompetência, devêssemos, de fato, ficar extremamente preocupados e, por que não, até perder nossas sagradas noites de sono.

Sei que as vezes nos sentimos impotentes diante de tanto a ser feito, mas o importante mesmo é aquilo que fazemos dentro de nossas possibilidades. Se todos fizerem apenas aquilo que podem, já teremos um mundo infinitamente melhor. Eu garanto!



"Todo o homem é culpado do bem que não fez" - Voltaire



*Michel Siekierski é uma pessoa com princípios e valores arraigados, amante dos pequenos prazeres da vida, que não tem medo de expor suas opiniões e nem de mudá-las, viciado em pensar, questionar e refletir, apaixonado pelo ser humano e colaborador do I.N.T.E.R.V.E.N.Ç.Ã.O H.U.M.A.N.A às quintas-feiras.* - EXCEPCIONALMENTE EM TEMPOS DE GUERRA, A PUBLICAÇÃO FOI ATRASADA. FALHA MINHA. - T.U.R.Ô.









3 comentários:

  1. "O importante mesmo é aquilo que fazemos dentro de nossas possibilidades. Se todos fizerem apenas aquilo que podem, já teremos um mundo infinitamente melhor." Michel, a banalização da violência, da corrupção etc, traz a cegueira. É preciso tirar este véu que a própria midia coloca para ao menos nos indignarmos com o que sequer pode ser chamado de humano. Parabéns pelo texto!!! Esperança!!!! :)
    Nancy

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  2. Vou fazer uma colocação que foge em parte ao teu tema, mas em parte não. Fato é, que ao ler o que vc escreveu, me lembrei de um pequeno texto escrito por um sobrevivente do Holocausto a uma professora que ensinava sobre o tema. Diz assim:
    Ensinar aos alunos sobre a desumanidade do homem em relação ao próprio homem não é simplesmente o cumprimento de currículo, mas uma obrigação para com esses jovens e para com o futuro.
    Em seu livro “Entre Professor e Aluno”, Haim Ginnot, sobrevivente do Holocausto, debate conceitos chave e atitudes que todos os professores de Holocausto deveriam ter em mente:
    “Caro Professor,
    Sou um sobrevivente de um campo de concentração. Meus olhos viram o que nenhum homem deveria testemunhar. Câmaras de gás construídas por engenheiros instruídos; crianças envenenadas por médicos educados; bebês assassinados por enfermeiras treinadas; mulheres e crianças que levaram tiros e foram queimadas por universitários diplomados.
    Portanto, eu duvido da educação.
    Meu pedido é: ajude seus alunos a tornarem-se humanos. Seus esforços não deverão nunca produzir monstros instruídos, psicopatas qualificados, Eichmanns educados.
    A leitura, a escrita e a matemática são importantes somente se servirem para tornar nossas crianças mais humanas.”

    Então, Michel, eu resumiria dessa maneira: quando as pessoas tiverem mais coração, abrirão também os olhos para além de seus umbigos.
    beijo grande, e way to go! Vc tá demais!!

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  3. Valeu, Nancy! Olhos abertos, sempre!

    Fri: Não tentes ser bem sucedido, tenta antes ser um homem de valor. - Einstein! ;)
    Eh uma honra te-la como leitora! Bjos!

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Á vontade, como se estivesse em casa...