sexta-feira, 27 de agosto de 2010

COLUNA 'NA CONTRAMÃO' por: Nancy Nuyen

A partir desta sexta-feira teremos neste espaço, semanalmente, um texto livre sobre temas de atualidade. Quem escreve, com o desejo de contribuir para esta reflexão, é Nancy Nuyen, jornalista, professora universitária, anarquista e roqueira. Espero que curtam!






O estranho fast food nacional

(por Nancy Nuyen)*



Fico impressionada e não raramente indignada com o comportamento de manada... Parecem todos de acordo sobre as regras comportamentais do chamado mundo global.

Eficiência, lucro, poder, lucro, consumo, lucro, aparência, lucro, fórmulas prontas para se viver de acordo com o econômica e socialmente esperado, com padrões de beleza, padrões para o sentimento, padrões para a alegria, e até para a tristeza (Atenção! Proibido ficar triste, já temos remédios para você ficar feliz).

A mídia cada vez mais medíocre – focada em “celebridades” que nada de excelência produziram para ganhar o status de “celebridades” – reforça em rede nacional o conceito de felicidade contemporâneo: dinheiro, poder, lucro, consumo, imediatismo, oportunismo.

Os jogos sociais – hoje quase contratos – espelham o cenário econômico atual. Até mesmo o amor passa a ser um contrato onde é preciso avaliar o “custo-benefício”. A solidariedade vai – quando vai - até onde o individualismo exacerbado e estimulado por toda a parte permite. A capacidade de se indignar é facilmente confundida com inadequação social, loucura...

Tempos estranhos estes. Com estes mesmos olhos por vezes obrigados a ver coisas como o horário eleitoral gratuito, Big Brother, Jornal Nacional e outros programas bizarros, constatei recentemente o que supus ser brincadeira na fala de meus alunos: a Igreja Universal abriu em seu templo da Vila Mariana na zona sul de São Paulo, um drive-thru de oração e oferta. Sim, tipo McDonald’s. Como na franquia de fast food, um pastor do drive-thru entrega ao motorista um folheto com os horários dos cultos, faz uma oração e um pedido de oferta à igreja. Dura cerca de 5 minutos. E a manada segue.

O importante – parece – é seguir, sabe-se lá para onde, desde que se alcance “sucesso”.Enquanto muitos morrem por falta de comida, saneamento, educação, o horário eleitoral gratuito continua prometendo e prometendo, anos após ano... Desconfio que eles – os partidos e seus políticos profissionais - sabem que ninguém acredita naquilo, como também sabem que se estivéssemos numa democracia o voto não seria obrigatório. Enfim, o importante, parece, é jogar o jogo.

Palco de hipocrisia, com a contrapartida de uma classe média supostamente informada, o palanque salta para a tela em horário nobre. Ali são oferecidos políticos/produtos, como sabão em pó. E os eleitores fazem “a festa da cidadania” na data estipulada, em troca de cestas-básicas, uniformes de times de várzea... E dizem – em horário nobre, no dia de eleição, que eles exerceram sua cidadania...E eu me pergunto se algum atributo humano, verdadeiramente humano, subsiste em alguma parte. Você tem fome de quê? Acorda!!!



* Nancy Nuyen é jornalista, professora universitária, anarquista, roqueira e colaboradora ás sextas-feiras do I.N.T.E.R.V.3.N.Ç.Ã.O  H.U.M.4.N.A.*










5 comentários:

  1. Como Gentleman que sou, lhe parabenizo pela estréia Nancy. Muito obrigado por participar deste projeto e acreditar desde o começo nele.
    De quebra ganhamos a honra de 'ler' você constantemente.

    Seja bem-vinda !!

    ResponderExcluir
  2. Nancy
    A veracidade de suas palavras da realidade atual é também o que vejo e vivo. O comportamento compulsivo de fuga da verdade da humanidade é gritante e posso-me expressar horrorizado com tudo isso!
    Penso em viver o simples e fazer oque gosto sem esperar nada além do convívio verdadeiro e interessante com a sociedade que é rica de cultura e valores. É tão gostoso fazer parte daqueles que se importam pelo próximo em dificuldade. Parabéns minha amada amiga por sua matéria e observações do modismo atual.

    ResponderExcluir
  3. beijos, amigos! Fico feliz de ter um espaço como esse para refletirmos sem censura. Valeu Arthur, obrigada!

    ResponderExcluir
  4. Belo texto, e retrato fiel da realidade de hoje... Digo, de uma realidade virtual, xarope, pois a verdadeira realidade na minha opnião consiste em estar em contato comigo mesmo: meus medos, desejos, aspirações, liberdade de pensar, sentir a vida e as pessoas. Quanto mais eu fico absorvendo o externo( essa realidade imposta e xarope), mais longe fico de mim mesmo.
    Vejo estas pessoas como andróides acéfalos, não sou e não quero me tornar um deles, me prostituir para ficar " na moda"...
    Obrigado pela verdadeira democracia que é este espaço/site.

    ResponderExcluir
  5. I.H. é nóis !!!Conexão capital-interior, passando pra deixar um salve e absorver conhecimento, parabéns pela estréia...
    é disso que nós tâmo falando!!!
    Salve Familia tudo nosso...

    ResponderExcluir

Á vontade, como se estivesse em casa...